Competência
A força do remo pelotense coloca Paris 2024 no horizonte
Paratleta da Academia Tissot e vice-campeão brasileiro na modalidade adaptada, Tierri Rodeghiero retorna às águas e pretende ir aos Jogos Paralímpicos
Foto: Jô Folha - DP - Nos trechos sinuosos do Arroio Pelotas, que drena a cidade, paratleta treina diariamente
Por Gustavo Pereira
Estabelecido nacionalmente por conta do projeto Remar para o Futuro, o remo de Pelotas também alça a cidade ao topo do esporte na modalidade adaptada. O responsável é Tierri Rodeghiero, 37 anos. Vice-campeão brasileiro em 2018, o paratleta se afastou da prática logo na sequência. Há cerca de seis meses, retomou as atividades na Academia de Remo Tissot, vinculada ao Clube Centro Português, e já treina para novos objetivos.
O diagnóstico de Tierri é de encefalomielite disseminada aguda (ADEM, sigla em inglês), doença que ataca o sistema nervoso e, entre outras consequências, gera paralisia muscular. Com fisioterapia, o pelotense recuperou os movimentos da parte superior do corpo. Mais tarde, encontrou no esporte um dos caminhos de retomada. Ele rema desde 2017.
Pouco antes da pandemia, o paratleta precisou enfrentar a morte da mãe e uma depressão. Assim, o período de afastamentos das águas aumentou. “Foi uma perda muito grande. Eu não soube aliar o esporte com a depressão, tive que fazer tratamento e tudo”, relembra.
No segundo semestre de 2022, Tierri voltou a frequentar a Academia, localizada no Recanto de Portugal, às margens do Arroio Pelotas. Acompanhado pelo coordenador da escola, o professor Oguener Tissot, além dos membros do Remar, que também treinam por lá, o cenário mudou. “Agora é outra coisa. Aqui é uma família. Tu vem pra cá, tu te distrai, conversa. É uma qualidade de vida melhor. Além do exercício, conviver com eles... O ambiente é ótimo”, comemora.
Esforço para, quem sabe, garantir vaga em Paris
Nas competições, Tierri representa o Clube Centro Português. Individualmente, em nível nacional, só não superou Renê Campos Pereira, 42 anos, medalhista de bronze nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, em 2021. O trabalho para se tornar o número 1 do País também envolve a classificação para as Paralimpíadas de Paris, em 2024.
Todos os dias, a partir das 6h30min, o pelotense começa o treino. Conta com o conhecimento técnico de profissionais de diversas áreas e a parceria dos jovens atletas do Remar para o Futuro, que o ajudam, por exemplo, a entrar e sair do barco. Por enquanto, o usado por ele é adaptado - mais pesado que o ideal, gerando limitações. Mas a Confederação Brasileira de Remo (CBR) prepara o envio de um barco específico, de classe paralímpica, o que qualificará a rotina.
“Um barco oficial dá uma outra condição de treino. Já se consegue pegar parâmetro de performance, pensar como ele está em nível nacional, internacional. E a gente já consegue projetar alguma coisa de forma mais fidedigna”, fala Oguener, que recebeu a reportagem do Diário Popular durante a manhã desta terça (10), na Academia.
Na semana da publicação desta matéria, Tierri Rodeghiero realiza avaliações em uma máquina. O resultado pode o credenciar para um camping de treinamento no CT Paralímpico Brasileiro, em São Paulo. Ao longo desse período, nas raias olímpicas da USP, haverá uma classificatória interna para definir os convocados para representar a Seleção em um circuito internacional.
Remar para o Futuro terá seletiva em breve
O começo do ano letivo 2023 significa a abertura de novo processo seletivo no Remar para o Futuro, iniciativa da Prefeitura sediada na Academia de Remo Tissot. O responsável pelo projeto estima a entrada de mais dez membros, necessariamente jovens menores de idade matriculados na rede pública municipal de Pelotas.
“O projeto está bombando, com boas perspectivas. Estamos nos preparando para o Sul-Americano, que vai ser no Chile. Vai ter qualificação interna nacional em março, e depois elas [meninas do Remar que participarão], vencendo a classificação, que é o que tudo indica pelo nível que elas vêm mostrando, a gente começa a preparação mais específica para o Chile. Depois, tem o Mundial”, explica o professor. Vale lembrar: atletas do projeto já disputaram diversas competições internacionais, inclusive na Europa.
Hoje, pouco mais de 20 jovens fazem o dia a dia do Remar na estrutura da Academia. Além do Centro Português e da Prefeitura, a iniciativa envolve o Clube de Regatas do Flamengo - para onde diversos pelotenses rumaram nos últimos anos -, e a UFPel.
Profissionais à disposição
A equipe multidisciplinar é composta pelo coordenador técnico Oguener Tissot; coordenador geral Fabrício Boscolo; supervisora e instrutora de yoga Verônica Diedrich; professor de remo Maurício Feijó; preparador físico Gabriel Moraes; fisioterapeuta Flaviano Moreira (coordenador do curso de Fisioterapia da UCPel); dentista Bianca Santana; nutricionistas Larissa Braga e Matheus Witch; professor de natação Vital Neto e auxiliar técnica Adriana Perez.
A iniciativa privada também participa, por meio do “Adote um Atleta”, programa apoiado por Arroz Emoções, Sicredi, Fisioterapia da UCPel, dentista Bianca Santana, loja Momi Clout e Motor Factory, que faz manutenção náutica.
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário